sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Há-de flutuar uma cidade

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há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

AL Berto

quinta-feira, 28 de outubro de 2004

José Gomes Ferreira

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Com o Mar...

Com o mar,
as curvas das ondas
e o dorso dum peixe ao luar
fiz uma deusa
que criou o mar.

(E depois deitei-me ao comprido
com o mistério resolvido.)

José Gomes Ferreira

quarta-feira, 27 de outubro de 2004

Veloz precisa-se

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Ao ministro lélé da cuca (Como o definiu brilhantemente Eduardo Prado Coelho) tudo corre mal.
Hoje, ao fugir desesperadamente dos jornalistas, o ministro dos assuntos parlamentares não dava com a porta de saída aberta. Muito rodou o manipulo, mas nada. Teve que dar meia volta e sair por uma porta já previamente aberta.
Do que Rui Gomes da Silva precisa, mesmo, é de um zeloso João Paulo Velez, que corra à sua frente, desimpedindo a passagem. Mas Velez há só um, e já é de Santana.
RR

Os tabus já não são o que eram

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Em menos de vinte e quatro horas, o presidente da "quinta das celebridades" é desmentido por Cavaco e Marcelo.
É obra.
Já não há tabus... como antigamente.

terça-feira, 26 de outubro de 2004

Bloco de esboços

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A minha paixão nunca foi pela fotografia "em si mesma", mas pela possibilidade, ao esquecer de si mesmo, de registar numa fracção de segundo a emoção propiciada pelo tema e a beleza da forma, quer dizer, uma geometria despertada pelo que é oferecido.
O disparo fotográfico é um dos meus blocos de esboços.

Fotografia e texto: Henri Cartier-Bresson. Do livro "O imaginário segundo a natureza". GG. 2004.

segunda-feira, 25 de outubro de 2004

Falso alarme

Afinal, o semanário "O Inimigo Público" errou. O inefável Toy não chegou a pôr os presuntos no Iraque.
Segundo o EXPRESSO, para satisfação dos nossos conterrâneos naquele território americano. Sim, parece que não era do agrado de ninguém envolvido no conflito, a deslocação do "cantor de intervenção" ao cenário de guerra.
Felizmente tudo acabou em bem. Toy ficou em solo nacional a treinar o seu "sexo". E os nossos compatriotas livraram-se da gritaria do "bardo" setubalense.
JTD

O novo tabu

O professor Marcelo vai esclarecer tudo na próxima quarta-feira.
Todos podem assistir.
Vamos finalmente saber o que levou o super-comentador a abandonar o rentável lugar que mantinha no canal do seu cunhado.
Com zangas de comadres, talvez se descubram as verdades...
RR

sexta-feira, 22 de outubro de 2004

Toy Division

Recentemente, uma publicação da Cãmara Municipal de setúbal, dirigida pelo seu presidente, Carlos de Sousa, fazia uma apreciação do último trabalho do cantor Toy, classificando-o como cantor de intervenção. O trabalho em análise tem por título "É só sexo". Segundo palavras do cantor este é um disco em que está toda a sua vida. Não tenho dúvidas: haverá algo mais intervencionista do que o sexo?

Também o semanário "O Inimigo Público", revela-nos a face recalcitrante do laureado autor musical. Aqui vai na integra o texto hoje publicado no prestigiado semanário português:

O cantor Toy, depois de ter ido ao Iraque tocar para os soldados portugueses e de aí ter reparado que o mundo é injusto e cruel, está a pensar mudar o rumo da sua carreira e seguir um registo musical mais profundo e alternativo. Os Toy Division, a sua novíssima banda, vão interpretar diversos temas de um conhecido grupo urbano-depressivo de Manchester. Para primeiro sinbgle, o cantor escolheu o êxito "O Amor Vai Separar-nos" (Olhos de Água Mix).

Justiça seja feita à autarquia setubalense, que antes de toda a gente, soube reconhecer as evidentes qualidades deste revolucionário cantor.
JTD

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

Ministro mistério

Que Marcelo dizia "inverdades" (admirável expressão que ainda ninguém distinguiu de "mentiras") e Gomes da Silva explica quais foram: a formação deste Governo foi uma manta de retalhos (até Santana Lopes sabe que foi); "há falta de coordenação" (o que é tão óbvio que levou o primeiro-ministro, num gesto inédito, a dizer que coordenava); que o primeiro-ministro não tem perfil (até Durão Barroso sabe que não); que o Governo foi desastroso no caso da Galp (o que se mete pelos olhos dentro). Se estas são as tais "inverdades", Gomes da Silva está lélé da cuca.
Eduardo Prado Coelho
PÚBLICO

terça-feira, 19 de outubro de 2004

Os novos bichos

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Vale a pena visitar esta quinta. Ora façam favor de entrar.
É por aqui...
  • VERITAS FILIA TEMPORIS
  • Hotel Pimodan

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    A vida é demasiado.
    A língua estala, de seca.
    O persistente inverno perdeu
    a ilusão tornou-se estrada
    de todo o náufrago.

    Hei-de morrer sentado longe
    da temerosa frota de amigos.
    "Quando o céu for longo
    pano branco sem vento..."
    e aos fechares os olhos
    fechavas as páginas à desordeira
    vida.
    E não sabias. Aconteceram
    coisas nesse ano surpreendentes.


    Fernando Luis Sampaio. Hotel Pimodan. Frenesi. 1987
    Pintura de Turner

    segunda-feira, 18 de outubro de 2004

    Os caminhos do mundo

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    Com o PÙBLICO de hoje, o segundo volume de Sob o Signo do Capricórnio.

    Corto Maltese chega à América Latina, onde deixa profundamente impressa a sua marca pessoal. Os caminhos do mundo trilhados por um "homem do destino".
    Há um sinal enganador na pose ociosa, distante e um pouco displicente de Corto Maltese, instalado na varanda da pensão de Madame Java, em Paramaribo. À primeira vista, dir-se-ia que o herói de Hugo Pratt mostra de si uma faceta até então insuspeitada - a de um homem desapiedado, a quem os acidentes na vida dos seus semelhantes não parecem impressionar por aí além. Ver-se-á, depois, o quanto há de precipitado nesta avaliação. Mas o primeiro juízo do marinheiro sobre o velho Steiner - agora um bêbado que foi, nos seus melhores tempos, professor de Franz Kafka, em Praga, e amigo íntimo de Freud, não passa despercebido à proprietária do estabelecimento...

    domingo, 17 de outubro de 2004

    António Ramos Rosa

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    O poeta completa hoje oitenta anos.
    O PÙBLICO assinala a data com um texto de Gastão Cruz, e comemora com este Poema Inédito

    O espaço do olhar é tão claro e aberto
    que nós estamos no mundo antes de o pensarmos
    e nada nele indica que exista um outro lado
    de sombras incertas de silêncios abismais
    Vivemos no seio da luz onde o inteiro vibra
    com a sua evidência de claro planeta
    e ainda que divididos vivemos no seu espaço uno
    porque é o único em que podemos respirar
    As nossas sombras não nos acolhem como folhas
    envolvendo o fruto o nosso desamparo vem de mais fundo
    e nele não podemos manter-nos temos de ascender
    ao móvel girassol do nosso olhar
    ainda que seja só para ver a fulva monotonia do deserto
    A vocação da pupila é o imediato universal
    quer caminhemos numa rua quer viajemos pelo mundo
    quer ainda diante de uma página em branco
    A palavra pode anteceder a visão mas também ela é atraída
    para o luminoso espaço em que desenha os seus contornos
    Como poderia a palavra fingir o que lhe foge
    sem a superfície de um solo iluminado?


    PÚBLICO

    sábado, 16 de outubro de 2004

    Governo das celebridades

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    Leio na primeira página do EXPRESSO que o ministro da agricultura, Carlos Costa Neves, concedeu uma entrevista a partir do seu gabinete, ao programa "Quinta das celebridades".
    É o governo das celebridades no seu melhor. Só não percebo a razão de ser da notícia de primeira página num jornal de grande tiragem. Eu, por mim, não fiquei minimamente admirado. O EXPRESSO acabará por se habituar.
    JTD

    sexta-feira, 15 de outubro de 2004

    Paula Rego

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    Obras inéditas de Paula Rego em Serralves. O festim começa a 15 de Outubro e prolonga-se até 23 de Janeiro.
    Em paralelo com a exposição haverá um ciclo de artes performativas com a participação de Joana Providência, Lúcia Sigalho, quarteto norueguês Spunk e duo Alejandra & Aeron.
    O comissário é João Fernandes, director do Museu de Serralves.
    JTD

    quarta-feira, 13 de outubro de 2004

    terça-feira, 12 de outubro de 2004

    Twombly

    Example
    E agora, só para limpar a vista... e a mente.

    reBlogue

    FALTA DE DIGNIDADE

    É o que se mostra neste parágrafo que Luis Delgado escreve contra Eduardo Cintra Torres:

    "Um vendedor de antenas parabólicas, que se acha crítico de televisão, e da Imprensa em geral, passou aos insultos pessoais. Diz tudo do seu carácter e estatura mental. Trate-se, ECT. Interne-se, num hospital psiquiátrico."

    Se fosse na URSS seria sem dúvida assim. Em Portugal, este tipo de palavras, tem também uma velha tradição. No Agora, antes do 25 de Abril, os mais velhos sabem o que era. O problema é que este homem manda no Diário de Notícias, no Jornal de Notícias, na TSF, no 24 Horas, etc., etc.

    José Pacheco Pereira
  • Abrupto
  • Outras lutas

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    As sondagens dia a dia, reveladas pelo PÚBLICO, dão uma pequena vantagem a Kerry. 47% contra 44% de Bush.
    Ainda há esperança...

    Celebridades

    De repente pensei que se tratava do filme de Woddy Allen. "Celebridades" é uma belíssima fita do mestre de Nova Iorque.
    Mas não. É uma inenarrável feira de vaidades, frequentada por um grupo de criatruras inclassificáveis.
    Um autarca delinquente veste a pele de cordeirinho. Um actor de filmes hard-core faz o papel de mordomo de um indescritível "fauno". Gente decadente e sem cultura partilha com o povo a sua vidinha sem trambelho.
    Li algures que isto era para rir; bora gozar porque eles estão lá porque querem.
    Mas rir de quê? Daquela pinderiquice sem jeito?

    Pronto, já desliguei o aparelho receptor. E o resto? E o negócio em volta? Numa banca de jornais, vejo a criatura misógina na capa de uma publicação dessas de embrulhar castanhas. O titulo era qualquer coisa como "A vida milionária de José Castelo Branco". Claro que não resisti a folhear a revista. Banalidades em barda. Cretiníces em abundância e a casinha medonha da criatura. Medonha, mesmo. Uma autêntica demonstração de absoluto mau gosto.
    E anda o povinho atrás desta gente. A querer fazer como eles.
    Pobres celebridades. Pobre povo, o nosso.
    JTD

    O ruído

    No PÙBLICO de hoje há crónicas de primeira água. José Manuel Fernandes, Eduardo Prado Coelho e Vital Moreira, estão com pouca pachorra para o desfile de parvoíce que domina o país. O quintal de celebridades está no governo. O primeiro-ministro anuncia medidas governamentais como quem vai até ali ordenhar uma vaca. A Assembleia da República? O que é isso. A maioria parlamentar toma conta rebanho.
    O PÚBLICO tem artigos de opinião que nos permitem confirmar que há vida, para além desta trapalhada.
    PÚBLICO
    JTD

    sexta-feira, 8 de outubro de 2004

    Barceló

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    Barceló apareceu hoje nas bancas de jornais. Um lindíssimo albúm com fotografias de Jean-Marie del Moral, acompanha a edição do PÙBLICO. O texto de introdução é assinado por Patrick Mauriés.
    São revelados pormenores dos ambientes em que o artista trabalha: o convívio, a execução das obras, os objectos, o ateliê.
    É hoje, no PÙBLICO.
    JTD

    quarta-feira, 6 de outubro de 2004

    Júlio Pomar

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    Júlio Pomar vai estar no Centro Cultural de Belém, a partir de amanhã, com uma importante exposição de trabalhos seus de outros tempos. Visita recomendável.
    JTD

    sexta-feira, 1 de outubro de 2004

    Parabéns

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    Angie Dickinson faz hoje setenta e três anos. Lembram-se dela em "Vestida para matar"?
    Parece que foi ontem.

    Gonçalo M. Tavares | Robert Lowell

    A menina fazia cálculos simples utilizando a saia que deixava à mostra pernas fáceis para um professor tão complicado.
    A sexualidade é um meio de adquirir conhecimento, tanto mais que as coxas disponíveis e os seios salientes são cobiçados pelo mestre de matemática cansado do abstracto e das rectas paralelas que apenas se encontram no infinito.
    O infinito que fique para os pobres e para os feios, que coxas como estas só surgem de cem em cem anos como alguns cometas.
    Do céu, disse ele, conheço algumas mulheres, e basta-me.

    Titulo: Biblioteca
    Autor: Gonçalo M. Tavares
    Capa: Margarida Baldaia
    Edição: Campo das Letras